WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - O descarrilamento de um trem que carregava produtos químicos tóxicos no começo do mês, no leste do estado de Ohio, nos EUA, tornou-se a mais nova arma da direita americana contra Joe Biden.
Comentaristas da ultradireita afirmam que o governo federal tem agido de maneira relapsa porque a região é formada majoritariamente por pessoas brancas e conservadoras, e o ex-presidente Donald Trump, em pré-campanha para retornar à Casa Branca na eleição do ano que vem, foi ao local nesta quarta (22).
O acidente aconteceu em 3 de fevereiro em East Palestine, cidade de cerca de 5.000 habitantes na divisa com a Pensilvânia. Após o descarrilamento do trem da companhia Norfolk Southern, autoridades queimaram parte da carga de forma controlada para evitar um vazamento desastroso.
Os moradores foram retirados de suas casas, mas, dias depois, as agências de proteção ambiental e gerenciamento de emergências do país autorizaram o retorno, dizendo que a situação era segura.
Nenhuma alta autoridade do governo Biden foi ao local até o momento; a Fema (agência de desastres) demorou duas semanas para mandar agentes à cidade, alegando que o caso não cumpria o requerimento de um desastre nacional; e o episódio teve cobertura menor na maior parte da imprensa, mais preocupada com o balão chinês que serviria para espionagem, óvnis e a viagem do presidente Joe Biden à Ucrânia.
Mas o receio com a segurança do local não foi completamente afastado por especialistas, enquanto moradores relatam náuseas e dores de cabeça. Em meio a preocupações legítimas sobre a qualidade da água e do ar, a parcela radical da direita no país diz que o suposto descaso tem razões raciais e políticas.
O ativista Charlie Kirk, que organizou e mediou um evento com o ex-presidente Jair Bolsonaro em Miami no começo do mês, afirma que o assunto não tem mais destaque devido à "guerra contra o povo branco". "Se este descarrilhamento tivesse acontecido no centro de Atlanta, em um bairro negro densamente povoado, esta seria a notícia número 1", diz ele, que dirige o grupo de direita Turning Point USA.
O apresentador da Fox News Tucker Carlson também sugeriu, na última semana, que a cobertura seria maior se o acidente não tivesse ocorrido em uma cidade "esmagadoramente branca e politicamente conservadora". Ao mesmo canal o ex-deputado republicano Sean Duffy questionou: "O governo diz que é seguro [para a população] voltar. A razão para isso é porque 70% dos moradores de East Palestine votaram em Donald Trump e apenas 30% votaram em Joe Biden? É político o que está acontecendo?".
Na segunda (20), quando Biden foi de surpresa à Ucrânia visitar Volodimir Zelenski, o prefeito de East Palestine, o republicano Trent Conaway, disse à Fox News que acordar com a notícia da viagem foi "um grande tapa na cara". "Isso mostra que ele não se importa conosco. Ele pode mandar a agência [de assistência federal] que quiser, mas eu percebi hoje de manhã que ele estava na Ucrânia dando milhões de dólares para as pessoas de lá, não para nós. No [feriado do] Dia do Presidente. Estou furioso."
Diante das críticas, Biden, na Polônia, publicou foto nas redes em que aparece ao telefone, afirmando que conversou com parlamentares, o chefe da agência ambiental e os governadores de Ohio e Pensilvânia para "reafirmar o comprometimento e garantir que tenham tudo o que precisam". A pressão caiu também sobre o secretário de Transportes, Pete Buttigieg, que só nesta quarta anunciou que irá ao local, na quinta.
Quem viu a oportunidade foi Trump, que embarcou na manhã desta quarta no Trump Force One --avião particular cujo nome faz alusão ao Air Force One, aeronave oficial da Presidência-- para East Palestine.
"Já que Pete Buttigieg, Joe Biden, o Partido Democrata e a maior parte de Washington se recusam a fazer seus trabalhos, alguém tem que se levantar e preencher esse vácuo", disse um dos filhos do ex-presidente, Donald Trump Jr., em vídeo compartilhado a bordo do avião, enfatizando que Biden "está dando os bilhões de dólares de impostos americanos para a Ucrânia" enquanto Trump "está lutando pelo povo americano".
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